Páginas

sábado, 23 de abril de 2011

Toda casa de taipa abandonada, guarda um grito de fome dentro dela.

Uma casa de palha, barro e pau
construída no alto do sertão
sem arroz, sem farinha , sem feijão
sem ter prato, sem papa e sem mingau
seu vigia de noite é o bacurau
passa a noite sentado na janela
no fogão não se vê uma panela
só se vê uma grelha enferrujada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

Fui um dia ao sertão e visitei
uma casa de taipa construída
a parede da frente já caída
sentí tanta saudade que chorei
quis entrar nessa casa não entrei
quis falar mas me deu um nó na goela
desse filme de terror só ví a tela
na passagem da fria madrugada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

Uma cama de varas sem colchão
uma toalha no chão serve de mesa
essa casa é a foto da pobreza
de um homem nascido no sertão
por lembrança deixou sobre o fogão
muita cinza e um caco de panela
um pedaço do cinto sem fivela
amarrado na porta da entrada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

Quem morou nessa casa antigamente
tem história a contar do seu passado
que saía bem cedo para o roçado
e um cão farejando em sua frente
tudo isso ficou na sua mente
parecendo uma história de novela
a coruja de noite é sentinela
dessa casa que antes foi morada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

Um chiado de grilo ou besouro
toda tarde se ouve na parede
encostado a um torno de armar rede
que na qual seu filho calava o choro
e o sol declinava cor de ouro
desenhando no céu uma grande tela
imitando um rapaz na passarela
despedindo de sua namorada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

Toda casa de taipa é sem fartura
o seu dono não tem prazer na vida
vendo um filho chorando sem comida
sem ter para lhe dar, uma rapadura
sem legumes, sem carne e sem verdura
sem tomate, cenoura e beringela
sem presunto, sem pão, sem mortadela
sem manteiga, sem queijo e sem coalhada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

Não existe no centro um candeeiro
que à noite estava sempre aceso
essa casa é um gesto de desprezo
que atingiu o seu dono verdadeiro
sem cama, sem forro e travesseiro
sem a lenha, fogão e sem tijela
sem um pano de prato, sem panela
sem ninguém "pra" morar toda fechada

toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

Um papeiro vazio e esquecido
e junto dele, uma colher de pau
que uma mãe preparou muito mingau
para um filho de fome adormecido
pela seca seu dono foi vencido
por lembrança deixou uma sequela:
o retrato da fome vive nela
assustando até mesmo a passarada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

O seu dono era um agricultor
quando havia um ano de fartura
tinha queijo, manteiga e rapadura
tinha paz, alegria e muito amor
mas a seca cruel lhe trouxe a dor
sua vida não era mais aquela
o cavalo morreu ficou a sela
num cambito de anjico pendurada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

Essa casa é de estilo muito antigo
a coberta é de palha de coqueiro
agregado com paus de marmeleiro
"pra" servir de refúgio e de abrigo
bem na porta deitado um cão amigo
que nasceu com uma mancha na costela
dois ou carrapatos na canela
que pegou pelo mato na caçada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

Um suspiro, um soluço e um gemido
quem passar perto dela deve ouvir
que seu dono deixou e quis partir
"pra" morar num lugar desconhecido
passou fome e ficou bem desnutrido
precisando de algo na panela
cabisbaixo calçou uma chinela
e saiu caminhando na estrada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

Não se houve o rangido da porteira
nem o galo cantar no seu puleiro
nem o ronco do porco no chiqueiro
só o grilo chiar na cumieira
o restolho de uma prateleira
que a esposa guardava pratos nela
pendurada num prego uma flanela
que com o tempo ficou bem desbotada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

No terreiro uma pedra de amolar
que de tanto usarem ficou fina
lá no quarto uma espingarda lazarina
que seu dono guardava "pra" caçar
hoje velha e não pode disparar
na coronha tem prego e arruela
pertinho da vareta uma fivela
com a tira de couro pendurada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

Uma casa de taipa sem telhado
sem janela, sem porta e sem batente
quem morou nessa casa antigamente
tem história a contar do seu passado
hoje o seu dono doente e bem cansado
mal vestido e calçado com chinela
tem saudade de quando viveu nela
bem humilde, bem pobre, mas zelada
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

Autor: Francisco de Assis Sousa (Chico Nenen)

 
Brasília-DF
27 de março de 2002

      

O poder de manipulação da mídia

Os programas televisivos são apresentados ao público de uma forma que engessa toda a sua capacidade de pensar  sobre determinado assunto. A exemplo disso, observa-se o Faustão entrevistando um participante (cobaia  desse laboratório de alienação) no seu programa, cujas perguntas são elaboradas no campo dos sentimentos: o que voce sente?, o que voce acha?,o que voce viu?, do que voce gosta?, o que voce faz? Omitindo fatos da realidade, não perguntando ao entrevistado o que  PENSA sobre determinado assunto, e  finaliza todo esse ensaio com o jargão " esse cara ralou para chegar até aqui, ó louco meu! Pensa que é fácil? não é moleza não!" Esse bordão tem a finalidade de ocultar ou fazer o povo esquecer,  do sofrimento por que ralam todo os dias bem cedo tomando ônibus lotado, enfrentando longos congestionamentos no trânsito das grandes cidades.

Texto de opinão

José Maria Ventura    

A velhice

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Poesia autor Manoel Nenen

               
Tema: Volte mãe quero te ver (de Francisco de Assis Sousa - Chico Nenen)
                  I


Minha mãe me deu de tudo
Do leito, a própria guarida
Me deu prazar nesta vida
Deu livro prá meu estudo
Deu coberta de veludo
Para meu corpo aquecer
Oh Deus! Como irei viver
Sem ela e tudo faltando
Dia e noite estou chorando
Volte mãe quero te ver

                II

Hoje ninguém me conforta
A sua falta eu lamento
A casa do sofrimento
Abriu prá eu essa porta
A mamãe se acha morta
É triste meu padecer
Eu não posso conviver
Nesta grande solidão
Saudade no coração
Volte mãe quero te ver

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Poemas de Manoel Nenen



Hortênsias


Pernambuco

Minha terra querida, eu não te esqueço
Um momento se quer na minha vida
De sua água potável, e da comida
Que me de destes outrora, eu agadeço
Hoje, ausente de ti tanto padeço
A saudade tortura e me flagela
Eu recordo a novena da capela
Que papai festejava com trabuco
Minha terra querida é Pernambuco
Tudo quanto eu gosto existe nela

Autor: Manoel Nenen
Fev/1983


O nordestino humilde do campo 

Todo nordestino tem
A sua mão calejada
Pelo decorrer dos anos
No manejo da enxada
Batalha, luta e não vence
Morre e não arranja nada
 
Só veste roupa rasgada
Anda sempre semi nú
Alpargata de rabicho
Só feita de couro crú
Essa é a figura idêntica
Dos filhos do Pajeú

Autor: Manoel Nenen

Mocidade e Velhice


Manoel Nenen e Pedoca

Tive a minha mocidade
Cheia de tanta alegria,
Mas hoje a melancolia
O meu coração invade
Velhice mágoa e saudade
Tudo isso eu sofro, em fim,
´´Prá´´ eu, não é mais surpresa
Um temporal de tristeza
Caído em cima de mim

Soneto : Tudo acontece na Velhice

A morte



Oh morte ingrata e ferina!
Levaste mamãe querida
Deixaste a minha vida
Na mais completa ruína
A saudade me elimina
E pertuba meu viver
Hoje, não tenho prazer
Vivo chorando esta ausência
Apelo ´´prá´´ providência
Volte mãe quero te ver

Seu corpo  na eternidade
Sua alma está com Deus
Todos sentimentos meus
Se transformou em saudade
Peço à santa majestade
Amenize o meu sofrer
Ordene ela ´´prá´´ descer
Do céu onde está morando
Eu fico lhe aguardando
Volte mãe quero te ver.

Autor : Manoel Nenen

Eu te amo


Pietro e sua mãe Patrícia.
Dedico esta poesia do meu pai para vocês.


 Amo vocês...


Tú és bela e santa carinhosa
Tú fazes parte da minha existência
Sem você, eu não tenho paciência
Minha vida se torna tão nervosa
E as horas do dia tão custosa
A semana que passo sem te ver
Já nã posso se quer nem entender,
Este amor é tão forte e tão profundo
Sem você, meu amor, neste mundo
Eu prefiro antes não mais viver


Os teus olhos para mim, são atraentes
O teu riso me atrai com tanto amor,
És um anjo divino e encantador
Teu retrato não sai da minha mente,
Pois te amo na vida fielmente
                                                                                        Só a ti dediquei tanta amizade,
                                                                                        Faço prece a Jesus por caridade
                                                                                        ´´Prá´´ não usar de fingimento
                                                                                         Se não eu vou morrer de sofrimento
                                                                                         Ingerindo uma taça de saudade .

                                                                                        Autor: Manoel Nenen
                                                                                        Escrito em 29 de Janeiro de 1992
                                                                                        São Paulo-SP

Parlamentarismo, República ou Monarquia









 Vote no Rei


Brasil sem democracia
Só existe desarmonia
É palco da demagogia
Cenário da corrupção
por isso vou votar no rei
''Prá'' criar justiça e lei
Nos tribunais da nação


Autor: Manoel Nenen 





SONETO

SAUDADE DE ITAPETIM


Manoel Nenen e seu filho pedoca.




 Saudade de Itapetim


Do jeito que estou agora
Não mais vou  em Itapetim
A doença me impede
Sinto um cançaso sem fim
De de lá recebo as missivas
Que muitas pessoas vivas
Ainda se lembram de mim

Itapetim minha terra
Amada e tão preferida
De ti, eu sinto saudade
Por mim não és esquecida,
Não existe outra igual
És meu torrão natal
Que mais adoro na vida

Toda hora e todo instante
Eu sinto saudade dela
Uma cidade pequena
Hospitaleira e tão bela
Berço de Rogaciano
Um poeta veterano
Que tanto cantou ''pra'' ela


Autor: Manoel Nenen

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Manoel Nenen

Deserto
Mote:
SÓ NÃO QUERO IR NO BALCÃO
TOMAR PORRE DE AGUARDENTE


Quero ser um fofoqueiro
Pilantra ou vagabundo
Só não quero que o mundo
Me chame de cachaceiro
Diga que sou feiticeiro
Que eu fico mais contente
quero receber corrente
Do espírito de lampião
Só não quero ir no balcão
Tomar porre de aguardente

Prefiro ficar trancado
Em uma cadeia segura
''Prá'' não beber pinga pura
Nem cerveja nem queimado
Quero ficar aleijado
Sentado em calçada quente
Vivendo como indigente
Comendo resto de pão
Só não quero ir no balcão
Beber porre de aguardente

Quero perder meu emprego
Sem mulher, abandonado
Dormir no velho sobrado
Ser sugado por morcego
Eu quero mesmo ser pêgo
Por um cabo ou um tenente
Quero sofrer um acidente
Cortar os dedos da mão
Só não quero ir no balcão
Beber porre de aguardente


Autor: Manoel Nenen 


Manoel Venâncio de Sousa (Manoel Nenen) Nasceu em Brejinho-Pe e Faleceu em 29 de outubro de 2009 aos 79 anos de idade deixando os filhos(as) Maria Regina, Maria do Socorro, José Maria, José Renato(nenen) e Pedro Lucílio(pedoca).

O Manoel gostava de beber cachaça, mas sabia o mal que  a bebida lhe causava. Após cada porre, no dia seguinte prometia que iria parar de beber, e vontade era tanta que ele começava a sonhar fazendo esses versos citando a cachaça, como no mote: Só não quero ir no balcão, beber porre de aguardente.

Fonte: José Maria Ventura   

MANOEL NENEN

Em pé, Dona Francisca, sentadas da esquerda para a direita, Socorrinha(filha de Manoel) e Dona Maria (esposa Manoel Nenen) 

Mote: O PRANTO DE MÃE SOFRIDA
          FEZ EU DEIXAR DE BEBER

                I

Comecei beber cachaça
Quando ainda adolescente
Me tornei um dependente
Do vício dessa desgraça
Bebendo à noite na praça
E o dia sem comer
Doente já ''prá'' morrer
E a matéria enfraquecida
O pranto de mãe sofrida
Fez eu deixar de beber

            II

Eu me julgava sem jeito
Preso no elo do vício
Passando, dor, sacrifício
Sem corrigir meu defeito
Sentia dentro do peito
O algo do desprazer
Estava ''prá'' enlouquecer
Com efeito da bebida
O pranto de mãe sofrida
Fez eu deixar de beber

              III  

Pelo impulso da bebida
Me tornei um vagabundo
Bebendo pela favela
Não ouvia mais aquela
Que fez, eu vir ao mundo
Maltrapilho, sujo, imundo
Sem condição ''prá'' viver
Fazendo mamãe sofrer
Destruindo a sua vida
O pranto de mãe sofrida
Fez eu deixar de beber

             IV

Vezes pedia gorjeta
Para beber um queimado
E depois de embriagado
Ia dormir na sarjeta
Era coisa do capeta
Eu não sabia entender
Fazia mamãe sofrer
Derramar lágrima sentida
O pranto de mãe sofrida
Fez eu deixar de beber 
    

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Manoel Nenen

Nasceu em15 de fevereiro de 1930 em Brejinho dos Nunes município de Itapetim-Pe, atualmente emancipado como município de Brejinho. Nesta Cidadezinha pequena no tamanho, porém grande pelo povo que ali habita, no pé da Serra do São Joaquim no Vidéo, nasce o Rio Pajeú. Esta região denominada Sertão do Pajeú é considerada por muitos, o berço da poesia. Lá nasceram grandes poetas, mas aqui desejo expressar e lembrar de Manoel Venancio Sobrinho ( Manoel de João Nenen) transcrevendo a seguir algumas estrofes com o seguinte mote:

NO SILÊNCIO DA FRIA ETERNIDADE
DORME EM PAZ A MAMÃE QUE TANTO AMEI

             I   

Uma mãe amorosa como a minha
Veio a morte tirana e carregou
Para mim tristemente só ficou
A saudade cruel, que eu tinha
Muitas vezes, revejo a casinha
Que com ela, em criança caminhei
Em um quarto de dormida eu avistei
Seu retrato, faltando a metade
No silêncio da fria eternidade
Dorme em paz a mamãe que tanto amei.

             II

Hoje vivo na triste solidão
De saudade o meu peito vive cheio
Pela mãe que me dava tanto enleio
Que partiu para outra região
Tenho hoje, a maior recordação
Dos abraços e beijos que lhe dei
Muitas lágrimas, por ela derramei
Como fílho da triste orfandade
No silêncio da fria eternidade
Dorme em paz a mamãe que tanto amei.

                    III

Hoje dela, eu tenho na lembrança
Seu sorriso de amor e simpatia
Que me dava prazer e alegria
E de revela perdí a esperança
Esta morta e na cova já descança
E eu dela, jamais me esquecerei
Muitas noites e noites, já chorei
Que sem ela, a tristeza me invade
No silêncio da fria eternidade
Dorme em paz a mamãe que tanto amei.

                    IV

De mamãe, não esqueço um só minuto
É por ela que aqui, vivo sofrendo
Mês, e anos se passa eu estou vendo
Meu corpo coberto assim de luto
Sua morte p'ra mim, foi um tributo
Que chorando, até hoje não paguei
Mais no livro da morte eu assinei
Vou pagar essa, conta com saudade
No silêncio da fria da eternidade
Dorme em paz a mamãe que tanto amei.

                V

Esta morte cruel, casou-me dano
Capitou a minha mamãe querida
Destronou o prazer da minha vida
Me jogou, sobre o mar do desengano
Hoje triste caminho sem ter plano
Por estrada, que nunca caminhei
Mas sabendo, que a morte cumpre a lei
Da divina suprema magestade
No silêncio da fria eternidade
Dorme em paz, a mamãe que tanto amei

Autor: Manoel Venâncio (Manoel Nenên)